segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Memorial

MEMÓRIAS DE LEITURAS
“O livro traz dialogo incessante onde o leitor pergunta e o autor responde.”
...Se bem me lembro minha história com os livros começou de forma acanhada. Estudei numa escola isolada com turmas multisseriadas numa casinha com condições precárias, onde pedaços toscos de madeiras serviam de cadeiras. Livros? Somente os didáticos e bem ultrapassados. Alfabetizei-me na cartilha da “Ana e do Zé” numa concepção bastante tradicional a base de copias e de castigos constantes. Entretanto, nas minhas visitas a casa da minha avó, descobrir no quarto de uma tia ( na época minha professora) um “tesouro”, escondido atrás do guarda-roupa uma sacola grande onde havia diversos livros.
Diante de tamanha descoberta fiquei maravilhada. Esse local então passou a ser usado para meus encontros proibidos. Sempre após o almoço quando todos iam dormir, eu dava um jeito de afastar um pouco o móvel e com passos leves carregava uma cadeira, subia e tirava a sacola pesada e ficava saboreando um a um, todavia, tinha o cuidado de não tirar muitos de cada vez para saber o local certo de repo-lhos. Ali ficara horas a fio, nesse namoro que só era interrompido quando percebia que alguém já levantado. A princípio eu lia apenas as ilustrações depois de algum tempo descobrir a aventura que poderia viver a cada livro então, passei a tirar um e esconde-lho para posteriormente usufruir de sua companhia quando não seria reeprendida. Nem sempre entendia bem os textos como o livro “ No pé de pilão de Mario Quintana que li sem ter muita ideia do que o autor dizia . mas mantinha o propósito de nunca deixar um livro pela metade. Quando concluir a 1ª serie vim estudar em Jaguaretama a cidade mais próxima e já havia lidos todos os livros que fazia parte da “ciranda da leitura” e fiquei dependendo das vindas dos meus primos que estudava e morava em fortaleza e nos feriados s férias eles traziam livros indicados no colégio, e eu simplesmente os devorava. Li também muitos livros pelos olhos da minha prima Ana Paula que conhecendo minha paixão pelos livros, sempre me contava os livros que mais gostava. Foi através dela que li pela 1ª vez “A moreninha” de Joaquim Manoel de Macedo. Foi ele que me fez tem preferências pelo romance e não obstante, foi com ele que ao comprar iniciei minha coleção de bons livros ( meu sonho de consumo) tenho um pequeno a cervo para ler e emprestar para os amantes da leitura....
...Ah!!! Não posso esquecer-me de citar as dificuldades que tiver de superar para poder viver intensamente essa paixão. Imagine eu adolescente vivendo em uma fazenda onde os afazeres são duplicados e é de responsabilidades de todos. Não se sobrava tempo no decorrer do dia então ia dormir altas horas da madrugada lendo na luz de uma lamparina sendo sempre reeprendida pelos meus pais que do quarto gritava “apague a luz e vá dormir”... e eu sempre dava um jeito de ler mais um pouco. Até gostava de poupar os livros com medo de ficar sem ter nada para ler.

“Deus nos concede a cada dia uma pagina de vida nova no livro do tempo. Aquilo que colocarmos nela, corre por nossa conta,” Chico Xavier


Iniciei minha caminhada profissional em 1996 como professores das series iniciais numa escola da periferia do município onde lecionei até o final de 2001. Como diz Carmen Navarro “O oficio de professor é aprender. Como é bom este nosso oficio tão vivo e tão transformada em que se pode gostar de decifrar saberes, de compartilhar afeto e de reestrear novamente as palavras com os alunos”.
E a cada dia desempenhando este oficio eu me inquietava ainda tinha muito que aprender eu tinha fome de saber, almejava aprofundar meus conhecimentos. Essa inquietação me levou a estudar cada vez mais. Em 1997 fui aprovada no concurso publico para professor do município. Logo que tomei posse sentir segurança financeira para fazer uma faculdade.


II
“Aprender é a única coisa de que a mente nunca se cansa, nunca tem medo e nunca se arrepende.” Leonardo da Vinci

Em 1998 fiz vestibular para pedagogia pela UVA (Universidade Estadual Vale do Acaraú), durante a faculdade fui construindo conhecimentos significativos que me deram fundamentação para aperfeiçoar minha ação pedagógica.


III
“As oportunidades normalmente se apresentam disfarçadas de trabalho árduo e é por isso que muitos não as reconhecem.” Ann Lauders

Ao final de 2001 recebi um convite da Secretaria Municipal da Educação para ser formadora do PROFA (Curso de Formação Continuada para Professores Alfabetizadores). Confesso que a principio encantada ao mesmo tempo em que temerosa.
Encantada, porque visualizei através deste convite uma oportunidade de estudar, de buscar respostas para minhas inquietações.
Temerosa, de imediato me bateu uma insegurança, medo de não ter competência necessária, de não ter perfil de formadora.
Agora resgatando os sentimentos que vivenciei neste período achei oportuno citar William Shakespeare “Nossas dúvidas são traidoras e nos fazem perder, por medo de tentar, o bem que poderíamos ganhar.”
Pensei muito, e fui ousada e aceitei.Uma decisão sábia pois, foi um marco na minha vida. Eu não só me identifiquei com o PROFA como eu me apaixonei: a metodologia, a formação, os conteúdos, o acervo tudo de excelente qualidade. Nunca me senti tão realizada profissionalmente como nos anos de 2002 á 2005 quando fui professora- formadora do PROFA por que como diz Cora Coralina “Feliz é aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina.” Porque ensinar e prazeroso, mas ser mediador de conhecimento para quem realmente tem fome de saber é de fato algo que nos deixa “extasiado”. Nestes gratificantes anos de estudo, de trocas de experiências, ainda tiver o imenso e indescritível privilégio de me deleitar com uma “ ORGIA DE LEITURAS”, uma aventura fascinante onde conheci, me apaixonei e continuo vivendo uma linda historia de amor com escritores como: Drummond, Clarice Lispector, Ítalo Calvino, Mario Quintana, José Saramago entre outros. Ah!!! Quantas saudades daquele tempo!!! O PROFA já não existe no nosso município mas, continuo com o forte propósito de ser uma formadora de uma sociedade de leitores e escritores....

IV
“O conhecimento é o mais precioso dos tesouros porque jamais pode ser dado, nem roubado, nem consumido.” Provérbio sânscrito.

Durante o período em que fui formadora do PROFA, exercia também a função de coordenadora do mesmo programa, se como formadora tiver momentos inéditos de aprendizado como coordenadora tiver a oportunidade de fazer uma pós- graduação na área de gestão escolar pela UECE (Universidade Estadual do Ceará) fiz o curso de extensão e pela UDESC (Universidade Estadual de Santa Catarina). Fiz também linguagem e códigos pela UVA (Universidade Estadual Vale do Acaráu).

V
“Você ganha forças, coragem e confiança a cada experiência em que enfrenta o medo” Eleanor Roosevelt
È importante frisar que sou um a pessoa bastante tímida e que a cada encontro com um grupo novo procuro vencer o medo de falar ao público. Este sentimento me acompanha e aos poucos estou encontrando formas de conviver sem que ele me atrapalhe tanto.
Em 2006 fui e convidada a fazer parte do PAIC ( Programa Alfabetização na Idade Certa) do governo do Estado do Ceará. O mesmo se divide em vários eixos, e tinha uma equipe de 04 pessoas que juntos desenvolvia varias ações entre elas:
• Avaliação externa a escola
• Formação Continuada de professores
• Formação de leitores
O programa é uma política do governo do Estado e vai até 2010. Desempenhei minhas funções com muita dedicação até 2008. Em 2009 a equipe foi mudada eu tiver que sai e confesso que foi uma grande frustração. Meu coração , minha mente de alguma forma ainda permanece ligados pois, acredito que tem tudo para mudar nossa realidade.

VI

Em 2009, o Gestar II surgiu em minha caminhada e veio acompanhada com aquela velha companheira a insegurança que sempre estar presente frente ao novo ela apareceu e tomou proporções gigantescas. Mas, ao mesmo tempo que ela me faz sentir incapaz me mostra o quanto preciso aprender, experimentar, arriscar com responsabilidade, de buscar novos desafios...
E aqui estou eu que como todo ser humano que nunca se sente completo, e consciente dessa inconclusão estar sempre buscando...aprendendo.


Francisca Diógenes Nogueira

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